Doom: The Dark Ages evolui e reinterpreta as bases sólidas estabelecidas pelo reboot de 2016 da série, aprimorando a ação frenética em primeira pessoa ao introduzir elementos estratégicos e a necessidade de decisões rápidas. Embora essa mudança tenha sido bem recebida, ela alienou uma parte dos jogadores que buscavam uma experiência mais direta, similar ao seu predecessor. A nova proposta não retrocede, mas reestabelece uma fantasia de poder envolvente com mecânicas simples e satisfatórias, levando o combate a um território inexplorado dentro da série.
Neste título, a ênfase está em manter uma posição firme durante os combates, em vez de se mover incessantemente. O jogador está permanentemente equipado com um escudo que permite parry de ataques inimigos e bloqueio de danos recebidos. Essa ferramenta versátil absorve impactos ou redireciona ataques com bloqueios e parries, possibilitando enfrentar múltiplos inimigos de forma mais eficaz. Contudo, em um estilo típico de Doom, a melhor defesa muitas vezes é uma ofensa agressiva. O escudo não serve apenas como defesa, mas também como uma arma. É possível usá-lo para desferir golpes em inimigos ou quebrar armaduras superaquecidas pelos tiros do jogador. Além disso, o escudo substitui o dash aéreo de Doom Eternal por um golpe longo que é útil nas vastas arenas de batalha. O escudo pode ser direcionado a alvos distantes, permitindo ao Slayer avançar rapidamente em direção aos inimigos e causar danos devastadores. Essa adição, focada na defesa, traz uma nova camada à fórmula existente, tornando-se uma mecânica difícil de ignorar.
A gestão de como eliminar demônios para manter a saúde e munição em níveis adequados ainda é necessária, mas sua importância foi reduzida em comparação a Doom Eternal. O foco agora se desloca para um ritmo que equilibra parries e ataques corpo a corpo. A mecânica permite desferir ataques poderosos com as mãos ou armas de combate corpo a corpo, todas vinculadas a tempo de recarga que pode ser reduzido parando ataques inimigos. É gratificante avançar para a cara de um demônio imponente, realizar um parry em sequência e, em seguida, contra-atacar enquanto o oponente está atordoado. Cada parry e contra-ataque impactante pausa levemente a ação, enfatizando os efeitos das suas ações e conferindo uma sensação crua e satisfatória a cada embate.
A sensação de peso nos golpes é acentuada pela presença física do Doom Slayer neste título. Essa força inabalável sempre teve um aspecto de máquina de matar imbatível, mas The Dark Ages reforça isso ao evidenciar sua presença no campo de batalha. Cada salto de uma borda é acompanhado por um estrondo que desintegra os inimigos em uma interpretação violenta de um aterrissagem de super-herói. É imensamente satisfatório se apresentar dessa forma no início de uma batalha contra hordas de inimigos visivelmente atemorizados. Contudo, isso altera também a movimentação: não há mais salto duplo ou dash aéreo, incentivando o jogador a escolher seus combates e adotar uma postura defensiva. Apesar disso, o ritmo frenético de Doom permanece, sendo um pouco mais pausado em relação a Eternal, o que pode exigir um ajuste, mas se alinha bem com as novas ferramentas de combate disponíveis.
Leva algum tempo para que todas essas mudanças façam sentido, resultando em uma primeira hora de jogo que pode parecer irregular. Os primeiros capítulos introduzem lentamente cada nova mecânica, mas a pausa frequente para tutoriais pode comprometer o ritmo da ação. O verdadeiro fluido das novas habilidades começa a ocorrer após a compra de atualizações, promovendo sinergias devastadoras. O esforço vale a pena ao se alcançar momentos em que eliminar inimigos que antes apresentavam dificuldades se torna uma tarefa trivial, permitindo aproveitar as melhorias adquiridas ao longo das batalhas.
Doom: The Dark Ages não descarta o patrimônio da série em favor de um foco redobrado no combate corpo a corpo. Avariada gama de armas resgata favoritas da franquia e adapta algumas delas de forma inteligente para se adequarem ao novo contexto. Continua sendo divertido eliminar demônios a curta distância com a Super Shotgun, cuja nova funcionalidade está em se aproximar dos inimigos, mas as adições mais recentes têm se mostrado atraentes pela combinação de diversão e utilidade. Um dos novos armamentos é um rifle equivalente a um railgun que dispara um canhão preso a uma corrente, devastando inimigos armados com impactos semelhantemente contundentes. Outro exemplo é uma arma que literalmente consome crânios e transforma os restos em projéteis, resultando em uma metralhadora eficaz para controlar grupos de demônios. As armas de The Dark Ages são enraizadas no período medieval em que se passa o jogo, mudando seu comportamento ligeiramente em relação a armamentos conhecidos, tornando seu uso renovado e excitante.
Além disso, The Dark Ages imerge os jogadores em seu novo período histórico ao apresentar níveis mais amplos e abertos para explorar. Esses hubs contêm múltiplos objetivos e segredos, permitindo que o jogador escolha a ordem e o ritmo das ações. Isso lembra as fases lineares, mas recheadas de segredos, do reboot de 2016 e de Eternal, com uma quantidade maior de descobertas e possibilidades de ocultação. Destacam-se os novos Cosmic Realms, um ambiente inspirado nas raízes lovecraftianas, que oferece conteúdo lateral memorável. Nenhum desses ambientes é excessivamente grande ou vazio, sempre repletos de demônios prontos para combates intensos. O balanceamento entre espaços mais lineares e abertos proporciona uma variedade satisfatória ao longo da extensa campanha de 22 capítulos.
No entanto, The Dark Ages apresenta falhas ao se afastar das mecânicas fundamentais ajustadas. Entre o mix de estágios lineares e os maiores, existem momentos em que o jogador pilota um grande mech em combates climáticos ou atravessa um grande campo de batalha montado em um dragão blindado com asas energizadas. Embora essas introduções sejam memoráveis, a ação carece de profundidade. Cada um desses encontros, no mech ou no dragão, reduz-se à procura de inimigos e combates lentos, fazendo com que o jogador anseie por retornar ao combate equilibrado em solo.
Da mesma forma, Doom: The Dark Ages não consegue contar uma história cativante com a sua abordagem de narrativa cinematográfica. A trama é mais fácil de seguir com a inclusão de personagens nomeados e eventos visíveis, em contraste com as entradas de codex dos jogos anteriores, mas carece de profundidade além da guerra inicial e de sua conclusão. O tom é um afastamento significativo do reboot de 2016, apresentando-se mais próximo da seriedade de Eternal, sem responder adequadamente a questões sobre o Slayer e seu papel no conflito desde o início. No entanto, existem momentos de destaque, especialmente quando são feitas algumas liberdades com o conceito do Slayer. Essas abordagens não tentam criar um mito maior para um personagem que é, em sua essência, um avatar da violência do jogo, mas resgatam situações memoráveis do reboot que agradam aos fãs.
É impressionante como Doom: The Dark Ages consegue moderar algumas das mudanças de Doom Eternal enquanto leva a série em uma nova direção que redefine suas regras de engajamento. A ênfase no combate corpo a corpo combina harmoniosamente com o ritmo consagrado da ação de Doom, tornando cada parry e contra-ataque tão satisfatórios quanto os primeiros golpes. A aventura é ajustada com precisão, entregando a fantasia de poder de eliminar demônios sem esforço sem perder a complexidade subjacente que torna cada confronto envolvente. Apesar de algumas falhas ao se afastar demasiado das mecânicas fundamentais, Doom: The Dark Ages mostra que ainda há um vasto campo a ser explorado dentro da série, provando que mudanças inteligentes e controladas podem levar o jogo a direções surpreendentes e resultar em alguns de seus melhores momentos.