A Roundtable Hold vive dias difíceis. Ervas daninhas brotam das rachaduras do seu piso deteriorado, a sala na ala leste que Gideon Ofnir usava como escritório agora é um desordenado acúmulo de poeira e objetos esquecidos, e a luz do sol vaza por um buraco na parede de pedras onde antes residia um par de enormes dedos. Este espaço, embora familiar, apresenta diferenças notáveis, refletindo o contexto de Elden Ring Nightreign como um todo. Os jogadores de Elden Ring reconhecerão a Roundtable Hold, assim como inimigos como o Caçador de Sinete e o Herói Antigo de Zamor. As mecânicas de combate de Nightreign são quase idênticas, facilitando a criação de um padrão habitual ao desviar de ataques e retaliar rapidamente. A essência de Elden Ring permanece, mas Nightreign também se configura como um jogo de subversões: uma criação da From Software que convida o jogador a adotar uma abordagem não convencional, priorizando a jogabilidade cooperativa em detrimento da exploração meticulosa, do isolamento e dos combates calculados, focando em velocidade e agressividade. De muitas maneiras, é o oposto do que os jogadores geralmente buscam nos jogos da From Software e, ainda assim, esta sequência experimental se mostra um triunfo absoluto.
A estrutura de Nightreign é intrigante. Primeiro, o jogador escolhe o chefe a ser enfrentado e, em seguida, inicia uma Expedição de 35 a 45 minutos que se desenrola ao longo de três dias dentro do jogo. Durante o dia, você e dois companheiros — idealmente em modo multiplayer — exploram rapidamente a terra de Limveld, uma versão alternativa de Limgrave, onde a topografia é mantida, mas os locais e inimigos mudam aleatoriamente de uma Expedição para outra. Todos começam no Nível 1, portanto, é essencial derrotar inimigos para acumular runas e subir de nível, além de encontrar novas armas, ferramentas e melhorias de personagem que ajudarão nas batalhas futuras.
Em algum momento dos dois primeiros dias, um círculo mortal, semelhante a um battle royale, começa a se fechar, obrigando você a um confronto contra um chefe aleatório. Esses bosses são selecionados de um pool de inimigos familiares, garantindo uma boa variedade, mas também pode ocorrer de você se deparar com os mesmos adversários se repetir a mesma Expedição. Caso consiga sobreviver por dois dias e triunfar contra o chefe ao final do Dia 2, você avança para o terceiro dia e enfrenta o Lorde da Noite que escolheu no início da Expedição, num embate que costuma ser grandioso, desafiador e, em última análise, empolgante. Vitória ou derrota lhe renderá relíquias que podem ser equipadas para oferecer várias vantagens em futuras Expedições, desde adicionar dano elemental que atinge as fraquezas de um chefe até melhorias em atributos como força e vigor.
Essa é a essência do loop de gameplay de Nightreign, mas existe uma profundidade considerável que se revela gradualmente à medida que você tenta derrotar cada um dos oito imponentes Lordes da Noite. Existem elementos de design claramente inspirados em roguelites, battle royales e jogos de extração, mas a impressão que fica é que a From Software não está simplesmente seguindo tendências multiplayer. Em vez disso, Nightreign reinterpreta essas inspirações para se adequar aos princípios de design do estúdio, criando um estilo de jogo que compacta a experiência de Elden Ring em 45 minutos de combate intenso e movimentação ágil. Os jogadores ainda enfrentarão uma variedade de inimigos, explorarão castelos e minas subterrâneas, além de vivenciar o mundo e o desenvolvimento de personagens pelos quais o estúdio é conhecido, mas tudo isso ocorre em um tempo condensado, conferindo uma dinâmica palpável que favorece a mentalidade de “mais uma partida”.
Grande parte desse foco na rapidez se deve à Maré da Noite — o círculo semelhante a um battle royale é composto por chamas azuis letais que se contraem com o tempo, eliminando rapidamente qualquer um que se encontre em seu interior. Durante o dia, morrer não significa o fim de uma Expedição, mas se seus aliados não conseguem te reviver a tempo, você reencarna e perde um nível, deixando as runas que carregava no local da sua morte. Perder um nível é prejudicial, pois a progressão é uma melhoria geral de atributos e saúde. Ao contrário do que ocorre em Elden Ring, onde o progresso é stat a stat, em Nightreign é mais direto: ao pressionar um botão em um Site de Graça, você automaticamente melhora os atributos mais importantes para a construção do seu personagem. Ao final de uma partida, o ideal é estar ao menos no Nível 11 ou 12, o que torna evitável a morte crucial.
O deslocamento em Nightreign distingue-se significativamente do sentido de peso e lentidão de Elden Ring. Como o Tarnished, sua movimentação requer atenção, mesmo ao correr. Em Nightreign, a velocidade é notável, equiparando-a à de Torrent de Elden Ring. A combinação disso com Saltos em Spiritspring — plataformas que permitem sobrevoar penhascos —, saltos em parede, uma águia etérea que transporta o jogador por grandes distâncias e a ausência de dano por queda enfatiza ainda mais a agilidade necessária ao gameplay do título.
Cada dia consiste em um período de coleta, onde você percorre Limveld em busca de runas, armas, itens e materiais de upgrade, preparando-se para enfrentar um chefe ao cair da noite. Isso significa navegar entre pontos de interesse, derrotando inimigos comuns e mini-bosses — conhecidos como Grandes Inimigos e Chefes de Campo — para subir de nível e acumular loot antes que a Maré da Noite se aproxime. A melhor abordagem para essa jornada não é imediatamente clara, de modo que Nightreign consegue capturar o ciclo de aprendizado por meio da falha que faz parte da identidade da From Software.
Minhas primeiras Expedições foram menos que excepcionais, evidenciando que todos ainda estavam se adaptando. Contudo, com o tempo, as estratégias começaram a cair no lugar. Costumávamos nos dirigir a uma Grande Igreja ou acampamento inimigo logo após aterrissar no mapa, pois geralmente contêm inimigos de baixo nível. Em seguida, parávamos na igreja mais próxima para aumentar o uso de frascos, explorávamos ruínas em busca de novos equipamentos e visitávamos um Evergaol para invocar e derrotar seu prisioneiro. No Dia 2, a atenção se voltava para o grande castelo no centro do mapa, que sempre abriga vários Grandes Inimigos, ou os Chefes de Campo que transitam pelo mundo.
Há um elemento de risco e recompensa ao enfrentar esses poderosos inimigos, especialmente se você estiver com pressa, visto que eles oferecem as melhores recompensas por serem os adversários mais formidáveis — além dos chefes de final de dia e dos Lordes da Noite. Participei de corridas que acabaram mal ao nos depararmos com um Grande Inimigo, e é inconveniente não haver a opção de reiniciar caso a situação se torne insustentável, especialmente com uma penalização por desistir. No entanto, também estive em corridas bem-sucedidas onde derrotamos vários Grandes Inimigos no segundo dia, conquistando poder suficiente para enfrentar um Senhor da Noite.
Em muitos aspectos, [Elden Ring Nightreign] é o oposto do que as pessoas normalmente buscam em jogos da From Software e, ainda assim, de alguma forma, esta sequência experimental se mostra um triunfo absoluto.
Essas batalhas se assemelham a uma sessão multiplayer de Elden Ring, especialmente ao enfrentar inimigos familiares como o Wyrm de Magma, Sentinela da Árvore e Leão Ancião. Há até algumas surpresas dos jogos da série Dark Souls, incluindo a presença do Rei Sem Nome e seu dragão como um dos chefes aleatórios. Os Lordes da Noite são o grande destaque, e a expectativa para enfrentá-los nunca diminui, já que cada um apresenta um desafio único. Gladius, o primeiro que você encontra, é um enorme lobo de três cabeças com uma espada presa nas costas. Enquanto cospe chamas e empunha sua espada em circulares letais, suas cabeças se dividem em três lobos distintos, que o caçam em uma aterrorizante matilha. Os outros Lordes da Noite também são criativos e desafiadores, mas deixo a descoberta para os jogadores.
A principal diferença de Nightreign em relação a uma luta de chefe em Elden Ring é como os personagens jogáveis podem sinergizar entre si. Em vez de criar seu próprio personagem, você deve escolher entre um elenco de oito variados Nightfarers antes de iniciar uma Expedição. Cada um preenche um arquétipo específico com pontos fortes e fracos distintos, desde um tanque e arqueiro até um mago e um lutador ágil.
Todos os personagens possuem estilos de jogo bastante diferentes, principalmente devido a uma habilidade passiva, habilidade característica e arte suprema únicas. Por exemplo, a habilidade passiva de Duchess proporciona dodges adicionais, ideal para seu estilo de jogo altamente móvel, enquanto Revenant eventualmente invoca fantasmas aliados para lutar ao seu lado. Habilidades características são ativas e possuem um curto tempo de recarga, variando desde a Espada Amaldiçoada de Executor, que permite refutar ataques ao estilo de Sekiro, até a garra de grappling de Wylder, que se agarra aos inimigos, permitindo puxá-los em direção a você ou vice-versa. As artes supremas podem ser usadas apenas após preencher um medidor causado pela infligência de dano aos inimigos, sendo as melhores reservadas para momentos cruciais. A arte suprema de Guardian, Asas da Salvação, por exemplo, o lança para o céu antes de despencar de volta ao chão, causando dano e criando uma área protetora que reviverá aliados caídos. Outras artes, como o Tiro Único de Ironeye, são mais focadas em causar dano, utilizando um arco enorme para ataques poderosos à distância que penetram quaisquer defesas.
Essas habilidades são agradáveis de usar e explorar, mas realmente brilham quando combinadas. A arte suprema de Raider é um ótimo exemplo. Totem Stela, ao convocar uma enorme lápide que brota do chão, não somente cria uma espécie de escudo, mas também melhora a força de aliados próximos, permitindo que personagens de longo alcance como Ironeye e Recluse ataquem de cima, mantendo-se relativamente seguros. Por si só, uma arte suprema como o Estaca de Ofensiva de Wylder causa danos explosivos, mas combinada com a habilidade Restage de Duchess, que duplica o dano do último ataque, você pode infligir grandes quantidades de dano ao chefe através do poder do trabalho em equipe.
Qualquer Nightfarer pode utilizar qualquer arma, sem requerimentos de atributos — exceto por algumas limitações de nível — ou restrições de peso. Certos tipos de arma se adequam melhor para personagens específicos, portanto, enquanto você poderia empunhar um enorme martelo com Recluse, um bastão seria muito mais eficaz, especialmente considerando a escalabilidade de armas. Uma escolha de design inteligente, contudo, é que as armas em Nightreign são úteis para mais do que atacar. Quase todas as armas oferecem buffs passivos que permanecem ativos enquanto você as possui em um dos seis slots de equipamento. Mesmo que você não tenha intenção de usar um Bastão de Glintstone, ainda pode aproveitar os benefícios do Falanx de Glintblade, que o cercam com espadas mágicas que visam o inimigo mais próximo. Reviver seus companheiros também envolve elementos estratégicos, influenciando as armas que você escolhe pegar. Para reviver alguém em Nightreign, você precisa literalmente atacá-lo de volta à vida. Por essa razão, frequentemente optava por pegar um arco ou besta, mesmo que não jogasse com Ironeye, apenas para conseguir atingir um aliado caído à distância.
Há um incentivo para experimentar cada Nightfarer e descobrir qual se adapta ao seu estilo de jogo, mas existem também razões narrativas para utilizar todo o elenco. Cada Nightfarer possui sua própria história exclusiva contada por meio das chamadas Lembranças. Existe um diário na ala leste da Roundtable Hold onde cada personagem anota suas reflexões. Todos foram atraídos para Limveld por destino ou circunstância, e suas histórias de fundo são frequentemente fascinantes, ampliando a lore já estabelecida em Elden Ring. Não quero revelar muito, mas a narrativa de Raider gira em torno de sua participação no Torneio da Terra Entre, enquanto se aventura por uma série de batalhas em uma arena gladiatória. Ironeye, por sua vez, faz parte de uma organização clandestina chamada a Confraria e chegou à Roundtable Hold em busca de um traidor.
Enquanto algumas Lembranças o transportam para locais únicos, outras adicionam objetivos adicionais às Expedições, seja um ponto de referência a ser seguido para obter um item específico ou um Lorde da Noite que precisa ser derrotado para avançar. Algumas dessas metas podem ser realizadas solo, mas surgem problemas quando vários jogadores estão envolvidos. Por algum motivo, dois jogadores não conseguem completar a mesma Lembrança ao mesmo tempo. Se você não tiver amigos para jogar junto, isso pode tornar o matchmaking para essas missões um pouco maçante, uma vez que você depende de sua Lembrança estar ativa em vez da de outra pessoa. É uma escolha estranha e uma das poucas críticas que podem ser feitas ao sistema de matchmaking de Nightreign. Encontrar pessoas para jogar é um processo simples, e um sistema de pinagem facilita o mapeamento de rotas sem precisar de comunicação adicional. O cenário ideal ainda requer pelo menos duas pessoas em microfones, mas, sem chat de voz no jogo, isso nem sempre é viável quando se joga com desconhecidos.
Embora você possa jogar todo o jogo solo, a sensação é de que não foi projetado para acomodar um único jogador. Os números de dano são escalonados adequadamente, mas você ainda terá que enfrentar vários bosses ao mesmo tempo, além de um grande número de inimigos comuns. Embora seja possível, mesmo para aqueles que não completam jogos Souls de olhos fechados ou usando um tapete de dança, é uma tarefa significativamente mais desafiadora do que a maioria pode suportar.
Galeria
Derrotar todos os oito Lordes da Noite e completar a história de cada Nightfarer é um empreendimento extenso, mas resta saber quanto tempo de vida o jogo ainda terá após isso. Um DLC pós-lançamento está programado, mas não creio que necessite de muito mais. Mesmo após 30 horas de jogo, não experimentei nenhum sinal de tédio, o que é prova da força de seu loop de gameplay. Eventos de Terra em Movimento mantêm o mapa fresco, ocasionalmente alterando a topografia de Limveld com montanhas, crateras em chamas, florestas em decomposição e até uma cidade labiríntica. Além de injetar um sabor estético marcante no mapa, cada área também introduz novos inimigos e situações de alto risco e alta recompensa. Somado a eventos mundiais, como chefes noturnos aparecendo durante o dia e invasões de NPCs Nightfarer hostis, cada corrida é única.
O anúncio de Elden Ring Nightreign foi uma verdadeira surpresa. Os detalhes sobre o tipo de jogo que ele representa foram ainda mais inesperados. Essa combinação peculiar de RPG da From Software com elementos de roguelites e battle royales parece o tipo de conceito experimental que nenhum estúdio de jogos investiria. Mas aqui está a From Software, explorando sua criatividade para dar uma reviravolta ousada em uma experiência multiplayer cooperativa emocionante. Mesmo que o resultado final fosse medíocre, esse é o tipo de risco que vale a pena celebrar, e mais ainda agora que se revelou ser algo tão fantástico e atípico. A parte da mente coletiva da From Software que criou curiosidades como Metal Wolf Chaos e Otogi: Myth of Demons ainda está muito viva e ativa.
